Regulação é ferramenta de gestão: protege, economiza e maximiza seu resultado

Por Cid Tomanik

A regulação, muitas vezes percebida como um entrave burocrático ou um obstáculo à liberdade contratual, é na verdade uma ferramenta essencial de gestão no ambiente do mercado de gás natural e da distribuição de gás canalizado.

Quando bem compreendida e aplicada, ela protege o usuário e a empresa regulada, gera economia por meio da previsibilidade e da eficiência, e contribui de maneira concreta para a maximização de resultados operacionais e financeiros.

O desafio está em enxergar a regulação não como um conjunto de obrigações estéreis, mas como um instrumento de estabilidade e confiança para quem consome, investe ou opera nesse setor.

No contexto brasileiro, a distribuição de gás canalizado se dá em regime de concessão estadual, sob a fiscalização das agências reguladoras dos Estados. Cada agência estabelece normas técnicas, econômicas e contratuais que orientam a relação entre o consumidor e a concessionária.

Essa estrutura regulatória cria um ambiente jurídico que, se bem interpretado, permite ao usuário industrial e comercial gerenciar seus riscos e garantir um fornecimento seguro e estável. A existência de regras claras sobre reajustes tarifários, qualidade do serviço, obrigações de fornecimento e resolução de conflitos confere ao contrato de fornecimento de gás canalizado um lastro jurídico que reduz a incerteza e permite decisões empresariais mais seguras.

Do ponto de vista econômico, a regulação protege o usuário contra práticas abusivas e contra assimetrias de informação. Quando um contrato de fornecimento é regulado por uma agência pública, há limites para variações tarifárias, parâmetros de cálculo estabelecidos e formas de recomposição que impedem surpresas ou reajustes arbitrários.

Isso permite ao consumidor planejar com mais assertividade seus custos operacionais, alocar de forma mais eficiente seus recursos e evitar surpresas que desestabilizem seu fluxo de caixa. Além disso, a previsibilidade regulatória favorece negociações mais equilibradas com a concessionária e abre caminho para revisões contratuais quando a realidade econômica se altera substancialmente.

A regulação também gera valor ao impor padrões mínimos de desempenho e confiabilidade. No setor de gás canalizado, essa exigência está presente nas regras de medição, pressão, continuidade do fornecimento, manutenção preventiva e atendimento ao consumidor.

A empresa distribuidora é obrigada a seguir padrões que, na prática, garantem que o insumo energético chegue ao usuário com regularidade e dentro dos parâmetros técnicos exigidos. Isso reduz o risco de paradas imprevistas na produção, melhora a eficiência dos processos industriais e evita perdas operacionais. Em outras palavras, a regulação contribui diretamente para a produtividade.

Do ponto de vista jurídico, a presença de uma estrutura regulatória robusta permite ao usuário questionar cláusulas abusivas, impugnar cobranças indevidas, solicitar revisão contratual com base em desequilíbrio econômico e até acionar a agência reguladora como instância administrativa de mediação de conflitos. Isso dá segurança jurídica à empresa que consome gás e que precisa tomar decisões baseadas em contratos de longo prazo.

A possibilidade de recorrer a normas técnicas e a resoluções da agência é uma forma de proteção adicional que reduz a vulnerabilidade da empresa perante a concessionária.

É importante compreender que, no ambiente regulado do gás canalizado, a empresa não está sozinha diante da concessionária. Ela está amparada por uma estrutura regulatória que define direitos e deveres de ambas as partes. A estrutura permite desenvolver estratégias de contratação mais vantajosas, desde que o usuário conheça e compreenda bem os instrumentos disponíveis.

Por isso, mais do que seguir regras, é necessário utilizar a regulação como parte da gestão estratégica do insumo energético. Isso significa revisar periodicamente os contratos, acompanhar processos de revisão tarifária, analisar impactos de alterações regulatórias e, sempre que possível, antecipar riscos por meio de assessoria técnica e jurídica especializada.

Em um setor com crescente complexidade regulatória e volatilidade de preços, não há espaço para a gestão intuitiva ou desinformada do insumo gás natural. A regulação, se bem aplicada, é ferramenta que organiza, protege, gera previsibilidade e agrega valor.

É por meio dela que o usuário pode negociar com mais força, defender seus direitos com base legal e encontrar alternativas de suprimento e estruturação contratual que melhorem seus resultados. Em tempos de transformação energética e busca por eficiência, a regulação não é entrave. Ela é aliada. Ela protege, economiza e maximiza o resultado de quem sabe usá-la como ferramenta de gestão.

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